sábado, 20 de junho de 2009

verdade e consequência

Sempre gostei de me sentar à janela.
Agora os olhos prendem-se lá fora e eu viajo longe no tempo. Uma bola nos pés, uma bicicleta, patins, uns trambolhões, horas sem fim de pura brincadeira. Jogar às escondidas e encontrar toda a gente, jogar ao stop, à verdade e consequência… A verdade é que cresci e as consequências são enormes. As pessoas não se encontram na esquina, nos jardins, a espreitar atrás do muro…
Quando era mais pequenina fazia uma coisa muito importante e era tão feliz. Não dava tempo para ter saudades das coisas que me faziam bem, das pessoas que me faziam sorrir quase por nada. E, se tivesse saudades, não deixava que doessem muito, muito… pensava apenas no caminho mais rápido e corria até encontrar e, por quase nada, sorrir
.


10 comentários:

Filipa disse...

Olá Ni!

é bem verdade o que dizes... também me sinto assim as vezes..como é possivel ter passado tao depressa..e nem darmos valor a essas pequenas coisas que nos faziam tao felizes...

como tenho saudades desse tempo..essas saudades que custam a passar quando nos lembramos delas...
força linda

beijo enorme...

adr-t

Neia

Prof.ª disse...

... no meio de tanta gente, tantos abraços e tantas lágrimas... descobri afinal que sou realmente quem escolhi... feliz no meio das crianças, triste longe delas :(
jogar ao ringue, o rei manda, toca e foge, macaquinho do chinês, saltar à corda... tantas saudades!!!

Vida disse...

Querida Ni,

Continua a correr,porque encontrarás, e sei que vais sorrir...

Beijinho muito amigo em Cristo
MJG

Cris disse...

Ni,

elas estão mais escondidas, mas estão lá...

Um xi gigante!

Amanda disse...

Verdade Ni,
e, também muito bom sentir que se existem as lembranças agora , é porque não morreu em nosso coração .A Alegria , digo .

Para Ti, muita Alegria em Cristo !!!

entremares disse...

Chiuko vivia no fundo do vale.
Nunca de lá saira e as montanhas cobertas de neve que o rodeavam eram o horizonte mais longínquo que jamais contemplara. O vale era o seu mundo, e nos seus quase sete anos de vida – ainda tão curta – o vale fora a sua casa, a sua familia, o seu retiro, a sua aventura, a sua escola de tudo quanto aprendera até à data.
O seu mestre, o monje encarregado do templo, zelava pela ocupação dos seus dias.
Acordava com a manhã, tocava os sinos do templo, substituia todas as flores dos vasos de oferendas dos peregrinos e em seguida isolava-se no seu canto, para as orações da manhã.
Dois toques do batente da porta da biblioteca tinham um significado especial para Chiuko; era tempo de estudar.
Mas aquele dia era especial, e por ser especial, a rotina iria ser quebrada; portanto, Chiuko não teria que ler nenhum capitulo do Livro das Tradições, não teria que repetir a sequência dos Mantras da Sabedoria, nem tão pouco exercitar os cálculos com o ábaco de madeira, que ele tanto apreciava.
Aquele dia era a véspera do grande dia.
O dia em que Chiuko poderia comer o fruto da árvore dos desejos.
O dia que marcava, para todas as crianças do vale, o fim da primeira infância e a entrada, como aprendiz de monje, no templo da aldeia.
Mas Chiuko era especial, e toda a aldeia dependia do que ele iria fazer, no dia seguinte, quando subisse ao alto do monte e se chegasse à árvore dos desejos.
A árvore, outrora tão frondosa, dava sinais de envelhecimento, e nada parecia conseguir rejuvenescê-la de novo. Durante anos, todos os frutos colhidos pelas outras crianças, quando atingiam a idade de sete anos, haviam-se revelado estéreis, e as sementes que as crianças semeavam, no final da cerimónia, secavam rapidamente.
Há muito tempo que não germinava outra árvore dos desejos, o que fazia da cerimónia do dia seguinte um acontecimento irrepetível.
Chiuko iria colher o último fruto da árvore dos desejos.

Ao deitar-se, ficou atento aos ruidos da noite. Gradualmente, a aldeia mergulhou no silêncio, as luzes apagaram-se e a névoa esbranquiçada do luar fez-lhe companhia, jorrando pela janela e envolvendo-o no mais profundo dos sonhos.
Viu-se junto à árvore, a colher o fruto arroxeado e, hesitante, a repetir as palavras cerimoniais, que antes dele, todos repetiam naquela ocasião. Viu-se a fechar os olhos, a formular o seu desejo, a morder o fruto, a pegar na única semente e a enterrá-la na terra escura. Viu uma semente a germinar, folhas a brotar e a erguer-se em direcção ao céu. Viu-se agarrado ao pescoço de um dragão, a sobrevoar o vale, a espreitar por cima das montanhas e a descobrir, lá do alto, outras aldeias, em tamanho minúsculo, espalhadas ao acaso por entre as florestas e os lagos gelados.
Quando finalmente adormeceu, já a lua desaparecera do quarto e as sombras eram agora rainhas da noite.

(continua...)

entremares disse...

(...continuação)


O monje do templo e seu tutor dera-lhe os últimos conselhos.
- Chiuko... Não tenhas pressa... sabes que não precisas de ter pressa, não sabes ?
Ele assentiu com um leve movimento.
- Sabes, Chiuko... – continuou – isto é uma coisa que tu tens que fazer sózinho... subires o monte, colher o fruto, repetir as palavras que eu te ensinei, dizer à árvore qual é o teu desejo ... e só depois comes o fruto. Lembras-te ?
Ele concordou de novo, abanando a cabeça.
- Não te esqueças de enterrar bem a semente... será a última semente da árvore...
Chiuko afastou-se, em direcção ao caminho irregular que levava ao cimo do monte. O monje ficou a contempla-lo, imerso nos seus pensamentos.
Durante toda a sua vida, não houvera um único desejo formulado por cada criança junto da árvore que não se tivesse realizado. Todas elas se tinham transformado em homens e mulheres importantes, acumulado riquezas, e a aldeia tinha prosperado com todas as coisas resultantes dos pedidos à árvore dos desejos.
Nunca tentara influenciar Chiuko nas escolhas do que poderia ser o ser desejo; muitos anos atrás, ele próprio desejara junto à árvore poder construir um templo na sua aldeia e o seu desejo cumprira-se.
E ali estava ele, muito anos volvidos, a rever-se a subir o caminho ingreme até ao alto do monte, onde a mesma árvore esperava, imóvel e serena.
Sentou-se, e esperou.

O sol já começava a descer sobre o horizonte, quando Chiuko alcançou os limites da aldeia.
O monje foi ter com ele e estendeu-lhe a mão.
- Foi especial, não foi ? – perguntou-lhe
Chiuko fechou os olhos por um momento, concordando.
- Sabes... ontem tive um sonho... e hoje foi como se estivesse outra vez a sonhar...
- Acredito que sim, Chiuko, acredito. E acredito que também tenhas pedido um bom desejo para ti...
Ele abanou negativamente a cabeça.
- Mestre ... e Chiuko pressentia que o velho monje se iria rir dele - ... a árvore falou comigo.
O velho monje escutou serenamente. Sentou-se de novo.
- E o que te disse a árvore, Chiuko ?
- Disse-me ... não foi bem dizer... pediu-me que tratasse bem do filho dela, que não tinha mais nenhum...
- A árvore disse-te isso ? – o monje desviou o olhar para o cimo do monte – e tu, o que fizeste ?
Chiuko juntou as mãos, como se estivesse a repetir os gestos utilizados enquanto falara com a árvore.
- Fiz o que ela me pediu ... e desejei que aquela semente se transformasse numa árvore, numa árvore dos desejos enorme, e que essa árvore pudesse dar muitos frutos...foi isso que pedi...
O monje continuava de olhos postos no cimo do monte, como se conseguisse ver a árvore, quase como se a conseguisse tocar com o olhar. Nunca contara a ninguém com medo que se rissem dele, nunca contara a ninguém que a árvore também tentara falar com ele, que também lhe pedira piedade para os seus frutos, que os tratasse bem, que se sentia cada vez mais sózinha, perdendo todos os seus frutos um a um.
Com a ponta dos panos com que se cobria, limpou uma lágrima rebelde.
- Fizeste bem, Chiuko... fizeste bem... agora vamos voltar, está bem ? Está a fazer-se tarde...

monge disse...

Que bela maneira de sentir, Ni.

É bem verdade que a vida é feita de pequenas coisas! Também me recordo, agradavelmente, de não sentir saudades das coisas. O tempo era o que menos importava na azáfama da brincadeira. Se bem que, agora, o tempo continue a ser o mesmo, as saudades já são muitas. Tantas!

Bjs

Juliana Melo Rodrigues disse...

Esta é minha primeira visita e adorei!
Realmente, a infancia é a época em que não pensamos em nada além de brincar e inventar brincadeiras.

Parabéns pelo seu blog!

Beijos da Juliana Melo.

Cátia disse...

Sorri minha querida... mantem aquela esperança, aquela inocencia, aquele sorriso sempre no coraçao.

xi bem apertado
CA