terça-feira, 29 de outubro de 2013

E agora está ali...


Hoje, ali, onde a vida ganha um sentido diferente e tão especial que é difícil de aceitar..., entrei num quarto, com a porta semi-fechada, com receio do que aquele doente me poderia ou não dizer. Tinha lido o processo... Um caso cinzento muito escuro.
Entrei... Disse "bom dia" e um friozinho demasiado frio arrepiou-me.
...
Lembrava-me daquela cara... Agora mais desgastada pelo tempo, pelo frio da rua, pelo calor do chão..., pela doença..., pela vida.
...
- Olha esta menina. Tinha saudades do seu "bom dia". Agora as pessoas já nem falam...
Fiquei ainda mais inquieta...

Era um senhor que me lembro dos meus primeiros anos de faculdade. Via-o sempre sentado no chão, camisola velha de lã, a acompanhar com o olhar e com a fome a fila das cantinas.
Trazia-lhe, ao sair, pão, fruta..., o que quer que fosse que enganasse a fome.
Sorria-me sempre com um obrigado maior que o desespero.
E agora está ali...
Dizia-me que estava bem. O que eu sei ser mentira... e devo-o ter demonstrado no olhar... E ele respondeu-me: "Nunca estive assim, com gente sempre ao pé, com casa, com cama e comida..."
...
A conversa continuou e no fim ainda me disse: "Abra essa porta, por favor."
Lá dentro uma T-shirt.
Ofereci-lha num Verão em que a camisola de lã não era nada adequada.
Era (quase) tudo o que tinha naquela porta.
Sorri-lhe e disse-lhe que já voltava.
"Agora acredito que Deus sabe o faz." - disse-me certo e calmo.






Ni

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Palavras do coração

Não sei o que escrever
Mas não me apetece parar...
Sinto as palavras a correr,
Algumas a tropeçar...

São palavras do coração
Que existem por sentir...
Nem pensam naquilo que são
Apenas sentem existir...

Escrevo sem saber dizer,
Com tristeza, mas sem dor,
Que o que eu gostava de saber escrever
Era poemas de Amor.





Ni

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Que se tatue em mim a poesia...

Que se tatue em mim a poesia,
Na nudez da tristeza e da alegria,
De quem se escreve por (não) sentir
As entre-linhas de existir.

Que se escrevam as palavras que sussurram,
Que se (ar)risquem as que magoam e gritam,
Que se entranhe a tinta que não mente
De quem escreve apenas o que sente.

Que se decalque em mim a vida
Pela certeza de ser vivida...
Não peço para não doer...
Peço para sentir e ser...
A esperança do dia a acabar,
A luz do amanhã a acordar...
Peço, apenas, um favor...
Que se escreva em mim Amor.






Ni

sábado, 5 de outubro de 2013

Ainda agora ecoa...

Acocorei-me ao Teu lado, como se fosse ao Teu colo.
Na Tua cabeça inclinada de sofrimento reconheci a ternura da Vida...
Olhei-Te na fragilidade de quem não sabe sofrer e senti a força de quem quer viver mais...
Na cumplicidade de desafios que aceitamos sempre juntos, aproveitaste o momento e sussurraste "Segue-Me..."
Ainda agora ecoa... a cada pulsar do coração...





Ni